segunda-feira, 30 de março de 2009

London writing


Uma das coisas que se aprende rapidamente quando se chega a Londres é que aqui o tempo, no sentido meteorológico, deixa de fazer qualquer sentido. O fazer chuva ou fazer sol deixa de ter qualquer influência sobre o ficar ou sair de casa porque, caso contrário, ou se passava a vida a sair e a entrar em casa ou, por via das dúvidas, ficava-se mesmo em casa. Para terem uma ideia desde que cheguei já fez/ está sol, agora está mesmo frio (com direito a gorro, cachecol, luvas e todas as invenções que enganem as temperaturas), choveu, caiu granizo, esteve nevoeiro de não se ver um palmo à frente do nariz etc. Não nevou, mas aconteceu quase tudo o resto menos temperaturas acima dos 10º. Em casa é diferente, em casa anda-se de t-shirt e é como se vivêssemos nos trópicos, calor o ano inteiro... e sabe mesmo bem chegar a casa nem que seja porque está sempre quentinho. Acho que o dia mais quente foi mesmo o dia em que cheguei, depois de uma viagem de avião, no mínimo sui generis... Voei para Lisboa a bordo do Amália Rodrigues, eheh, dá logo aquele ar de emigrante a caminho de terras distantes, para ser perfeito acho que só mesmo se fosse para Paris, me chamasse Linda de Suza (acho que é assim que se escreve) e tivesse uma mala de cartão. Mas não, tinha uma malinha que pesou apenas 19,8 Kg (quem sabe fazer malas sabe fazer malas, não é Piu?), uma mochila cheia de tralha que me deixou as costas feitas num oito e toneladas de ansiedade. Fui à janela, toda contente, sem ninguém ao lado a chatear e ainda vi a Ponte 25 de Abril (Lisboa pode ter muitos defeitos, mas quando se volta pela 25, à imagem vista dali, é impossível não se amar aquela cidade). A viagem teve direito a tudo, turbulência, bebedeira, polícia à chegada e tudo. Isto porque houve um senhor que achou por bem embebedar-se valentemente e ir entretanto fumar uma data de vezes para a casa de banho o que deixou a tripulação um bocadinho desesperada, acho que não sabiam o que era pior, se aturar o bebâdo, se conseguir conter os outros passageiros que queriam ver a cena em primeira fila. Acho que o senhor nunca mais voa na Tap, mas deixou de souvenir uma garrafa de licor Beirão e outra de vinho do Porto, vazias, no lugar. Devia ser para Inglês ver... Mas o melhor de tudo e contado ninguém acredita foi aterrar em Londres ao som do "Slave to Love" do meu querido Brian Ferry. Não sei quem escolhe as músicas das aterragens mas desta não me esqueço tão depressa. Logo a seguir, enquanto o avião já estava parado, a polícia chegava, uma velhinha era impedida de fotografar a cena, o Sr Frank Sinatra cantarolava "I love New York in June, How about you?". Mais um ponto para quem escolheu essa canção. Entretanto já se passaram uma série de coisas esta semana, já vi outras tantas, mas não fiz tantas quanto quis. Posso dizer, para quem me entende, Londres é brutal, mesmo muito bom... Entretanto para a semana acontece também coisa nunca vista. Durante a semana que passou, um dia a meio da tarde, enquanto um dos colegas lá do departamento me ensinava a trabalhar com uma aplicação do banco, recebeu um e-mail a informar que para a semana, todos podemos (ou mehor devemos) adoptar um dress code casual, o que significa que pode tudo andar com a bela da calça de ganga, ténis, t-shirt etc... Isto provocou uma onda de histeria inimaginável, com o Adam (que é um inglês que me dá pelo ombro) a dizer que era a primeira vez desde que estava a trabalhar, em 20 anos, que podia vir de calças de ganga... A verdade é que espera-se que a City seja invadida por activistas, a propósito da cimeira dos G20, e convém que quem trabalha nos bancos consiga passar minimamente desapercebido entre as gentes. A verdade é que por estas bandas tudo o que é director de banco acorda com o carro partido e a casa vandalizada e acho que por aqui a coisa para a semana não vai ser bonita. A semana passada a polícia andava a arrancar os cartazes que anunciavam a manifestação e apelavam à mobilização para ir armar banzé para a city. Enfim, ainda consegui encontrar um cartaz e tirei uma fotografia e espero para a semana chegar inteira a casa ou a outro sítio qualquer, sem um olho negro ou coisa do género.

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