terça-feira, 14 de abril de 2009

G20...

Cosimo Piovasco de Rondó é o nome d' O Barão Trepador, personagem de um romance com o mesmo nome de um escritor de que gosto particularmente, Italo Calvino. Podia aproveitar e dizer que é um dos meus escritores italianos predilectos mas, verdade seja dita, não conheço assim tantos... Curiosamente o único livro que me roubaram na vida, não contando com empréstimos sem data limite para devoluções, foi um livro do Calvino, o Se numa noite de Inverno um Viajante. Gabo o gosto do ladrão, ao menos isso. Para quem não conhece a história, Cosimo decide um dia subir a uma árvore e acaba por nunca mais descer à terra contando à medida que o tempo vai passando o que vê e como organiza a sua vida sem nunca mais ter de conviver com a sociedade e o mundo tal qual estes estão organizados, cá em baixo. Na semana da cimeira do G20 muita gente teria subido a uma arvorezinha para ver melhor as coisas, se calhar tinha feito falta, sobretudo às cadeias de televisão, aos manifestantes que desataram literalmente à bulha uns com outros, a algumas "almas iluminadas" do Royal Bank of Scotland e sobretudo a quem se viu apanhado no meio da pancadaria sem ter pago bilhete para ver, muito menos para apanhar. Havia polícia por todos os lados, acho que toda a gente estava à espera de uma encenação ao jeito do melhor western americano, mas no fundo cada um cumpriu bem o seu papel e a televisão esteve lá para mostrar o que quis, a saber:de um lado estavam naturalmente os "bons", os manifestantes, gente pacata e ordeira que organizou uma marcha de protesto pacífica e tudo estaria bem no melhor dos mundos não fossem os que acham que as manifestações são ocasiões extremamente propícias para beber umas belas "jolas" e quantas mais melhor; afinal a bebida disinibe e nada melhor para travar contacto com uns polícias vestidos a rigor que deviam estar cheios de vontade que reparassem neles, já que andavam em grupos com coletes amarelos, não fosse dar-se o caso de ninguém reparar neles. O pior é que muitos destes protesters tinham uma vocaçãozinha sadomaso e também não deviam gostar de amarelo ou precisam de óculos, ou eu é que não percebo os meandros da ternura dos seres humanos uns pelos outros porque às tantas os bons dos manifestantes desataram a bater uns nos outros. Se calhar era do frio e um bocadinho de calor humano vem sempre a calhar. Do outro lado estavam os "maus", os polícias, vestidos a rigor e por todos os lados, alguns devem ter aproveitado para alguma actividade física e nada melhor do que trabalho braçal, um manifestante vem sempre a jeito e uns, pelos vistos, até gostam.Depois apareceram os vilões, que do alto do Royal Bank of Scotland decidiram vir à janela e se calhar acharam que a coisa precisava de ser animada, só um bocadinho, e desataram a acenar com notas... Os "bons" fartaram-se de ser bonzinhos e pronto, até ecrãs voaram. Os cowboys e os sheriffes ficaram lá no Excel Centre e depois foram à noite ao salloon do Gordon Brown. E as televisões fizeram o seu papel de mostrar apenas os "bons" quando se fartaram de ser bons e os maus no seu melhor papel. Dos vilões, como sempre, não rezou a história. Acabo por não perceber muito bem para quê tudo isto... acabei por não perceber muito bem, acho que nem eles, porque é que muita gente foi para ali manifestar-se, acabo por não entender muito bem afinal o que é decidiram os grandes patrões do mundo, se calhar serviu para andar de ténis e calças de ganga durante uma semna e "e eu entendi que ser pobre, mais que um destino, era uma espécie de vocação como ter jeito para jogar bridge ou para tocar piano", e a esta conclusão já chegou o Lobo Antunes, há algum tempo. Se calhar o melhor era começarmos todos a subir às árvores...

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